ACERVO

Cristina Canale | Sem título | 2007

Cristina Canale | Sem título | 2007

A pintura sobre papel de Cristina Canale que temos no acervo é uma das queridinhas do nosso público! A pintura tem fundo claro e a cena é composta por tons suaves como aquarela. Sentado em um tapete rosa oval com pequenos riscos azuis, um gato cinza-claro peludo está parado no centro da composição – ele nos olha de volta. Ao fundo, do lado direito, um sofá amarelo com almofadas azuis e, do lado esquerdo, outro gato tentando escapar da cena. Este tem o lombo e o rabo preto e as patas brancas; está com boa parte do corpo enfiada em um buraco marrom na parede branca. O que vemos é uma cena cotidiana, um recorte do que poderia estar acontecendo na casa de qualquer um de nós.

Quer conhecer o acervo permanente ou precisa de fotos das obras em alta qualidade? Escreva para o e-mail [email protected].


No texto da exposição Entre o Ser e as Coisas, a crítica de arte Luísa Duarte fala sobre o pintar cotidianices de Canale:

ficha técnica

  • Autor

    Cristina Canale

  • Título

    Sem Título

  • Ano

    2007

  • Técnica

    Pintura sobre papel

  • Dimensões

    125 x 150cm

  • Local da obra

    Corredor das salas de aula

“A arte tem o poder de doar uma segunda pele para a vida e, no encontro com as obras de Cristina Canale, é justamente essa segunda pele que doa singularidade e sentido para as experiências mais prosaicas que nos é endereçada. (...)

A artista nos devolve como surpresa o cotidiano mais prosaico, que o olhar embotado pelo hábito torna anêmico. Se a pintura em si já é um desafio no que solicita de parada para contemplação em tempos hiper acelerados, as que vemos hoje em Entre o Ser e as Coisas ainda nos desconcertam por nos lembrar que não é mau que as coisas se encontrem outra vez, e todos os dias, nos mesmos lugares. Mas é preciso “castigar os olhos fitando isso que anda no céu e aceita astuciosamente seu nome de nuvem, sua resposta catalogada na memória.” E nesse olhar fixo para aquilo que parece que já sabemos o que é, que automatizamos e já não mais enxergamos de fato, descobrir uma beleza e uma singularidade insuspeitadas. ‘Resistir a que o ato delicado de girar a maçaneta, esse ato pelo qual tudo poderia se transformar, possa cumprir-se com a fria eficácia de um reflexo cotidiano.’ ”.

 

 

Audiodescrição da obra:

Instituto Ling · Audiodescrição da obra Sem Título, de Cristina Canale, 2007

 


Sobre a Artista

Cristina Canale
Foto: Site Glamurama

Nascida em 1961, no Rio de Janeiro. Atualmente, vive e trabalha em Berlim, Alemanha.

A artista estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e, em 1984, participou da emblemática Como vai você, Geração 80? – mostra coletiva que marca a chamada retomada da pintura no contexto brasileiro, fortemente influenciado pelo neoexpressionismo alemão que era tendência internacional à época. Suas primeiras pinturas são cheias de elementos visuais e volume de tinta – o que faz com que sejam “matéricas”. Elas também mostram o uso intuitivo de cores vivas e contrastantes que é percebido ainda hoje em seu trabalho. Segundo a crítica de arte Luísa Duarte, “naquele momento, Cristina não se adequava a essa receita (do neoexpressionismo alemão) por inteiro: seus trabalhos lidavam com questões formais, faziam um uso intenso das cores, mas seu alvo era a construção de paisagens maleáveis, com tom mais solar e menos melancólico. Sua paleta era corajosamente mais aberta e diversificada do que a da imensa maioria de seus colegas de época, que tomavam partido por uma monocromia nublada, escura, devedora da escola alemã de pintura neo expressionista”.

Na metade dos anos 1990, Canale parte para estudar na Academia de Artes de Düsseldorf, na Alemanha, onde estuda pintura sob orientação do artista conceitual holandês Jan Dibbets. Sua pintura passa então a “investigar a espacialidade, a partir da sugestão de planos e profundidades e da maior fluidez no uso das cores” (Galeria Nara Roesler). A fotografia publicitária serve muitas vezes como base para a construção das cenas cotidianas que a artista pinta e suas obras são resultado de um trabalho de composição elaborado, que transita entre a figuração e a abstração - “os elementos figurativos estão sempre à beira de uma iminente dissolução na abstração” (site da artista), mas, por outro lado, a abstração, em Canale, também evoca a figuração. A já mencionada Duarte declara que “essa tensão visa desconstruir uma vontade de ordem e perenidade - ou melhor, escolhe habitar um espaço entre, que transita pela abstração, as linhas e a evocação de figuras, tudo isso em grandes manchas de cor”.

 

Sobre o trabalho da artista, ela comenta:

“A pintura surge como um espaço de questionamento sobre o alcance do nosso olhar e, no limite, sobre as possibilidades da pintura mesma ainda representar ou dizer algo sobre o mundo.

As pinturas de Canale não querem “dizer” nada a respeito do que existe à nossa volta, ao mesmo tempo em que não dá as costas para o contexto em que vive. Nem o pouso na cartilha moderna que dava as costas para a vida, nem uma tematização que abdica da forma para apenas ilustrar algo. Suas pinturas querem edificar na carne da linguagem pictórica as suas narrativas desprovidas tanto de ponto de partida como de chegada, sendo sempre travessia.”

Luísa Duarte em texto de abertura da exposição Entre o Ser e as Coisas (grifo da autora)

 

Algumas das suas exposições individuais incluem Cabeças/Falantes, na Galeria Nara Roesler, São Paulo (2018); Cristina Canale: Zwischen den Welten, no Kunstforum Markert Gruppe, Hamburgo, Alemanha (2015); Entremundos, no Paço Imperial, Rio de Janeiro (2014); Espelho e memória – Spiegel und Erinnerung, na Galerie Atelier III, Barmstedt, Alemanha (2014). Entre as mostras coletivas que contaram com a participação da artista figuram a 6ª Bienal de Curitiba (2011) e a 21Bienal de São Paulo (1991), na qual recebeu o Prêmio Governador do Estado, além das recentes Ateliê de gravura: da tradição à experimentação, na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre (2019); Mulheres na Coleção MAR, no Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro (2018); e Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, na Oca, São Paulo (2017).

Suas obras integram o acervo de célebres instituições de arte no Brasil como MAM-RJ, MAC-Niterói, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Itaú Cultural, MAC-USP e a coleção de Marcantonio Vilaça (São Paulo e Recife), entre outros.

Autor(a): Camila Salvá.

 

PARA SABER MAIS sobre a artista

Site da artista

Instagram da artista

Você sabia que o gatinho que está fugindo da nossa pintura aparece em outros quadros da Canale? Dá uma olhada por onde o danado foi passear!

Ficou com vontade de saber mais sobre a artista? Confira os vídeos sobre as exposições e com entrevistas da artista que estão em seu site!

No site da Canale também é possível conferir os livros já escritos sobre a artista! Confere lá!

 

Confira abaixo a entrevista que realizamos com a artista sobre a obra:

 

Referências

Site da artista. Disponível em: https://www.cristinacanale.com/

Texto de Luísa Duarte para a exposição Entre o ser e as coisas. Disponível em: https://www.cristinacanale.com/luiza-duarte-2014

Entrevista concedida à equipe do Educativo do Instituto Ling em 10/10/2022.